quinta-feira, 16 de setembro de 2010



That's it. Bati no fundo. No fundo do poço. Não é nada bom começar assim um dia. Não que seja bom acabá-lo assim também, mas começar o dia desta forma é especialmente mau. E eu por aqui ando perdido em questões existenciais, de rastos na poeira que ao fim e ao cabo foi criada por mim. Olhar para o lado e ver a felicidade alheia em paralelo com a nossa incapacidade de criar um laço que seja, é duro e custa.

Sou uma velinha de pavio pequeno. Daquelas que levam uma eternidade para se acenderem, acendem-se muito poucas vezes e se apagam num instante. Depois toma conta de mim a inveja, a inveja daquelas sortudas que ardem bem e queimam a sua solidão num instante. Estou triste, já esclarecemos esse ponto. O problema é que este é o único tipo de tristeza em que não consigo chutar a bola prá frente por mais forte e perseverante que me considere. Vivo encalhado em esperanças de que aconteçam coisas boas e milagres. Encalhado à espera de bons ventos. Oh mar de felicidade, se me queres leva-me por ti adentro de uma vez por todas...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Era uma vez um menino

Era uma vez um menino que um dia ganhou consciência. Começou a perguntar-se porque é que ele era ele, porque é que ele estava naquele corpo, porque é que ele tinha aquele nome, porque é que ele era aquela pessoa, porque é que ele tinha aquelas características, aquele cabelo, aqueles olhos, tudo aquilo que fazia dele ele mesmo.
Era uma vez um menino que adorava a sua família, o seu país, a sua pequena vida e a sua escola. Perguntava-se porque é que o seu pai não tinha um pai, porque é que o seu avô se tinha ido embora antes de o conhecer.
Era uma vez um menino que começava a crescer devagarinho, que um dia a meio de uma trovoada viu um raio cair a poucos metros de si enquanto brincava na escola. Perguntava-se porque é que aquilo o tinha assustado tanto e ele via os outros meninos a chorar e não era capaz de chorar.
Era uma vez um menino que adorava a praia, os piqueniques com a família e amigos, aqueles dias à beira-mar naquela barraca do amigo pescador, brincar na areia, olhar para o mar e imaginar o que compunha a infinitude para lá da linha do horizonte, para lá daquilo que conseguia ver. Perguntava-se porque é que um dia, enquanto passeava à beira-mar, uma onda o quis levar, o embrulhou, o levou às voltas por entre a água que engolia enquanto se sentia incapaz de sequer chamar pelo seu pai que segundos depois o salvou por um triz.
Era uma vez um menino que pensava que tinha muitos amigos, via no seu padrinho o seu melhor amigo, ele levava-o a passear, dava-lhe muitos brinquedos engraçados e tinha um coração enorme. Perguntava-se porque é que esse seu melhor amigo tinha morrido atropelado por um carro, meses antes de se casar e de ir viver para a sua casa nova.
Era uma vez um menino que aguardava ansiosamente o Verão, altura em que chegava de França a sua tia que lhe trazia pequenas lembranças e grandes sorrisos, que lhe dizia de forma terna e carinhosa aquelas coisas “Como cresceste! Como estás a ficar um homem grande e bonito!”. Perguntava-se porque é que a sua tia se foi embora para sempre, levada pelas sombras do cancro, lá longe, sem ele se poder despedir dela.
Era uma vez um menino que havia acabado de celebrar o Natal e aguardava com entusiasmo a festa de chegada do Novo Ano. Perguntava-se porque é que a sua alegria foi levada quando a sua avó foi levada para o hospital, porque é que ela agora mal se mexia, não falava, estava sempre deitada e nem conseguia comer pela sua própria mão, porque é que ela ficaria assim durante anos neste mísero sofrimento e angústia.
Era uma vez um menino que sonhava com o casamento da sua irmã, um dia de grande festa na família, um dia pelo qual tinha esperado durante anos e que se realizava dentro de poucos meses. Perguntava-se porque é que se sentia a ter um déjà-vu ao ver o casamento da sua irmã adiado por mais um ano enquanto esteve internada por lhe ter sido diagnosticada leucemia.
Era uma vez um menino que cresceu mais e mais, que mudou de escola, que mudou, que começou a fazer novos amigos, que se apaixonou, que começou a explorar os desígnios do amor, que conheceu outros mundos sociais, outras maneiras de viver, outros países, outras culturas, outras pessoas, que decidiu dedicar o seu tempo a algo que gostava, que começou a ver a sua vida a crescer de dia para dia. Perguntava-se porque é que a vida nos obriga assim a crescer, para o bem e para o mal. Perguntava-se porque é que ele se tornava homem a cada dia que passava, a cada gesto, a cada decisão que tinha que tomar, porque é que tinha que crescer, assim quisesse ou não.
Um dia, já homem, descobriu que o mundo estava a ficar louco, que os valores se estavam a perder, que não valia a pena lutar, que os sentimentos já não existiam, que era tudo uma farsa, que a futilidade e indiferença pareciam tomar conta de tudo e todos. Descobriu na sua cruel tristeza que palavras daquelas já não significavam nada, gestos daqueles já não significavam nada, olhares daqueles já não significavam nada, abraços daqueles já não significavam nada, beijos daqueles já não significavam nada! Tudo parecia haver perdido o seu valor! De que valia então a paixão, dar de si o seu melhor, oferecer toda a sua alma a uma outra pessoa se até já um beijo se perdia no esquecimento e na indiferença de um dia para o outro? Vale a pena gostar de alguém assim? De alguém que só vê girar o mundo à volta dela própria? Que só liga ao seus vícios, vontades e necessidades sem ligar sinceramente aos outros ou mesmo ao que é melhor para si?
Era uma vez um homem, um homem grande, mas um pequeno homem. Um homem que lamentava o estado das coisas, a perda da importância do valor do significado. Perguntava-se porque é que não poderia voltar a ser menino outra vez, voltar atrás no tempo e estancar. Parar num tempo onde os sentimentos não tinham grande importância e não tinham significado. Queria voltar a ser criança, a não ter de se preocupar com beijos daqueles, com abraços daqueles, com olhares daqueles, com gestos daqueles, com palavras daquelas. Queria voltar a viver a inocência de um tempo em que tudo importava mas nada contava. Um tempo onde podia sonhar sem pensar em limites, onde podia levar a imaginação ao limite do seu próprio poder, sem ter em conta as barreiras físicas e sociais que prendem os homens grandes ao chão. Barreiras essas que fazem as pessoas cair num comodismo pleno de indiferença pelos sentimentos verdadeiros, uma indiferença onde já nem um beijo… nem um beijo daqueles tem significado…
Era uma vez um homem que estava triste por ver todo o seu esforço desprezado pelo destino. Perguntava-se se valeria a pena remar contra marés, e decidiu sensatamente deixar-se levar ao sabor do vento, desistiu de remar contra ondas de força maior que a sua e levantou a vela e destrancou o leme, pelo menos até encontrar terra de valor à vista…

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Deep Paths

Deep pathds. Caminhos profundos traçados por um arado perito na mestria de rasgar corações, mesmo os mais fortes.
São ventos agrestes que sopram infernais, qual fole que atiça o braseiro incandescente que molda impiedosamente o ferro.
É um sol nada alegre mas devastador que retira as forças e o fôlego.
É um misto de factores que pesam no espírito e rebaixam a acalmia de uma felicidade serena e tranquila. Uma felicidade de quem, a custo, aprendeu a viver de bem consigo mesmo.
Deixai vir outros trilhos. Na próxima esquina há-de aparecer uma estrada que leve a um melhor caminho. Sem pressas. Às vezes sabe bem fugir do corrupio imparável e deixar-se levar um pouco ao sabor do vento. Parar é morrer, e estancar num mau sítio é o que nos faz entorpecer os sentidos.
Depressa ou devagar a outros sítios chegaremos, outras pessoas conheceremos, outras coisas aprenderemos, outras pessoas nos tornaremos. Porque por muito que assim não queiramos, o artista do destino sempre acaba por nos moldar ao seu jeito como sendo seu barro. Caso pra dizer: "Filho da mãe..." :p

terça-feira, 5 de maio de 2009

Às vezes não percebo


Às vezes gosto de assistir àqueles filmes ou séries que nos fazem sentir tipo merda, que nos reduzem a insignificantes microorganismos sentimentais. Vemos todo aquele sentimento e emoção e reduzimos os nossos sentimentos próprios porque achamos que ao pé daquilo que vemos tudo se torna insignificante. No entanto às vezes até sou capaz de abrir os olhos.
Hoje quase chorava emocionado ao assistir a uma dessas séries. A certa altura a vontade de chorar apertou, não impulsionada pelo sentimento ficcionado impingido por aquelas imagens, mas sim quando me vieram à cabeça imagens da realidade, da minha realidade. Apeteceu-me gritar aos céus para denunciar a estupidez humana sem fim. Toda a gente passa a vida a queixar-se de gastar todo o seu tempo numa jornada de procura do amor. Neste caso duas pessoas gostam-se, há mais de um ano. Gostam-se de uma maneira que não sabem descrever. Passam a vida a fugir um do outro, a evitar-se. São, um ao outro, tudo menos indiferentes. Quando se olham nos olhos, depois de alguns meses, olham-se em pânico como quem vê um fantasma. Ao invés de porem em prática aquilo que sentem na realidade, aquilo que mais valor teve e tem entre eles, inventam um ódio, uma raiva para justificar a sua distância e o seu igual magnetismo que os afasta. Tiveram tudo nas mãos e deixaram fugir. Já foram felizes juntos, abraçados, agora repugnam-se por razões que não encontram. Terá lógica tamanha estupidez? Às vezes gostava de ter uma resposta esclarecedora para isto, às vezes não percebo...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Coisas remexidas

Desde que estamos geograficamente mais próximos evitamos e demoramos a deixar que os nossos olhares se cruzem. Nem sabemos se entre nós existe compreensão e simpatia ou ódio e angústia. Paixões geram sentimentos adversos e, mesmo depois de extintas elas deixam marcas profundas. Não fomos um Garret e uma Catherine mas estivemos no mesmo leito de paixão, partilhando amor, carinho e compreensão.
O meu coração ainda dispara quando vejo o teu rosto no meio da multidão, e mesmo que não dispare o sentimento deixa-me aturdido. Apesar do tempo que passou ainda te destacas pelo meio das outras pessoas. Ainda que já nem saiba muito bem o que significa esta réstia de sentimento que me aquece o coração como uma doce e suave brisa de Verão, existe significado em ti e na tua presença. Apesar de o mundo se ter virado, de estarmos ambos um pouco diferentes e de provavelmente já nem nos conhecermos, tu foste a minha primeira mulher e isso nunca me sairá da cabeça, muito menos do coração.
As coisas já não são o que eram, nunca como tal voltarão a ser, no entanto não esqueço que foste tu a primeira mulher a aceitar o meu amor que durante anos fabriquei em sonhos e guardei a sete chaves para alguém especial. E isso tem significado para mim, muito significado e muito valor.
Além da tristeza pela forma como tudo acabou, sinto também uma sincera pena de ter tido tão pouco tempo para te mostrar todo o meu eu, e pesa-me que não exista uma segunda oportunidade para mostrar a minha nova pessoa. Nestes jogos as oportunidades são poucas e eu esgotei a minha única.
Tu ligaste-me ao mundo e fizeste-me viver um sonho. Agora depois de ter viajado, de ter conhecido outras terras e outras gentes, vivo e anseio por me agarrar a este chão novamente. E nada melhor para me agarrar como a paixão por um filho do diabo, uma mulher.
Ainda que não sejas tu (porque mesmo muitos dos meus fortes sentimentos já se dissiparam) espero outra lua para acompanhar o meu céu estrelado de sonhos.
Espero de braços abertos novamente um coração, seja ele qual for, que me agarre a este chão e me faça levitar da terra.
Alguém me ensinou a seguir em frente (e já era mais que tempo de isso acontecer) e pretendo tomar esses ensinamentos como correctos e pô-los à prova.
Mais que um ex-apaixonado, sou agora um coração aberto em busca de outro sol radioso.

Pego nas chaves do carro e saio. Visito aquele penedo que é chamado “da saudade”. Indo sozinho ou acompanhado, sempre me abstraio do mundo real para os pensamentos, como sendo o dono do mundo, daquela visão, e, naquele sítio mais que belo, sonho por entre os telhados de Coimbra e as sombras da cidade da paixão que um dia terei novamente direito a acreditar e que terei de novo alguém a quem dedicar as minhas palavras que não o vento.
Memórias guardo-as com a nostalgia de tempos que me levaram ao expoente máximo da felicidade. Sonhos guardo-os junto com a ambição de ser cada vez mais um homem melhor, com alguém ou sozinho.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ai a mulher a mulher... :p

Uma música bonita:
Ezspecial - Alguém Como Tu

"Eu olhei nao percebi a tua timidez
mas gostei do que vi
quero te outra vez

uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu uh uh... uh uh

a mulher e fogo e nao sabe o que faz
tira me o sono e nao me deixa em paz
nao demora a esquecer e a mudar... o que tem
nao quer saber de nada nem de ninguem

eu joguei e perdi tudo de uma vez
ja amei e vivi mais do que uma vez
sabes de mais sobre mim
queres tudo o que ves

uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu
uh uh uh alguem como tu uh uh uh uh

a mulher e fogo e nao sabe o que faz
tira me o sono e nao me deixa em paz
nao demora a esquecer e a mudar...o que tem
nao quer saber de nada nem de ninguem

sou passageiro na tua viagem para onde vais?
e tenho o tempo na bagagem...quando e que sais?
saio no encalço do meu destino e nos teus sinais
tenho a sensaçao de querer mais

a mulher e fogo e nao sabe o que faz
tira me o sono e nao me deixa em paz
nao demora a esquecer e a mudar... o que tem
nao quer saber de nada nem de ninguem"

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Já era tempo

Parei de fugir de ti. Não és mais um fantasma. Cresci mais um degrau para aprender que és apenas um pessoa especial que agora está longe. É verdade, existe mesmo um vazio entre nós, grande demais para o que eu gostaria, mas existe. É real. E acho, na minha eterna ignorância de quem constantemente aprende lições dos outros, que já era tempo de o combatermos. Mas juntos, não distanciados por um sentimento que não sabemos sinceramente o que é. Já era tempo de pararmos de rematar a bola contra o adversário e tomar uma atitude de Fair-Play. Dar as mãos e começar a trabalhar para tapar este grande buraco que nos separa. Porque por certo ele não nos levará a lado nenhum.
Sabes que errei. Sei que erraste. Sei que errei. Sabes que erraste. Sabemos que errámos. E o pior de tudo é que continuamos a errar, a querer pôr as culpas apenas no outro, ao invés de podermos ter combatido todo esse desatino juntos, desde o começo do fim. Tenho os braços abertos para juntos baixarmos nossas cabeças em tom de humildade e confessarmos os nossos mais tremendos erros.
Neste degrau que subi apercebi-me de que o arrependimento daqueles momentos já não mora comigo e sou capaz de olhar para trás com um sorriso, para as fotos, para os pequenos gestos, para as tuas pegadas, para os pequenos sinais. Estou à espera e continuarei. És uma pessoa especial. Mas se não for de teu desejo voltar farei como dizes, não esperarei, seguirei o meu caminho, porque sei calcetar o meu próprio trilho. Não quero mais ser olhado como o coitado, quero apenas paz, paz entre nós, porque podíamos juntos ter tudo e não temos nada, nem aquela simples bênção de amigos.
Como tentava dizer um certo escritor posso viver sem amores, tal como vivo agora, mas nunca serei capaz de abdicar dos meus amigos que tanto sentido dão à minha existência.
Chega de rancores, somos capazes de melhor do que isto que estamos a viver, vingança e raiva, a paz é possível, saibamos fazê-la, porque ambos errámos e ambos podemos fazer por redimir os nosso erros.
Um abraço e que o bom amor sempre nos acompanhe… …onde quer que estejamos.