terça-feira, 29 de julho de 2008

Sem palavras....

Já esteve calmo. Às vezes está calmo, mas outras vezes fica incandescente como o braseiro que leva com pás de enxofre em cima. Dói-me o coração. Arde na sua fúria inextinguível. Não me larga em sonhos, em pensamentos, mesmo meses depois de tudo ter acabado. O cabrão do destino tramou o nosso rumo e as coisas acabaram da pior maneira. Sinto falta de companhia e vivo deprimido. O coração salta da sua órbita ao ver uma foto, ao passar naquela bela terra e ao dar de caras com o castelo, ao tentar imaginar o que fará ela neste momento. Porque eu agora já não posso saber. Ao acordar, se sonhei com ela, já tenho o dia todo estragado. A cabeça mais dificilmente sai dela. Do que fomos nós. Deito-me na cama onde passámos tardes de humor e de grande amor, de intensa paixão, tardes em que ela, passeando pela casa envolta apenas num lençol branco, linda no seu corpo magro e esbelto, criou um fantasma que me assombrará no futuro. Neste leito ela me ensinou o que era a partilha da paixão em vez da paixão singular. Ela mostrou-me com toda a paciência do mundo que sou um homem como qualquer outro, que já sei ser homem. Um sonho que eu vivia acordado e desejoso de ser eterno. Pequenos passeios, pouco tempo juntos, mas muito desejo, muita fome do doce mel que os nossos corpos juntos e sem roupa, nos faziam provar. A mais pura essência do prazer na união máxima inequívoca que duas pessoas podem tomar. O tremer, o gemer, o arfar, as mãos inquietas e exploradoras, a língua tomando o sabor da mais doce pele, o torpor que aquele desejo infindável provocava nos nossos sentidos. Os movimentos celestes que nos faziam remar rumo àquilo que queríamos, os abraços apertados, o beijos húmidos e penetrantes, o encaixe dos corpos, a sede do néctar que naquele contacto, tão mais próximo que tudo, nos fazia chegar à paz do movimento frenético que ali nos levara. Sorrindo um para o outro ali nos acariciávamos naquele terno carinho a que o prazer máximo dá lugar. Obrigado por me teres dado a conhecer esta realidade. Obrigado por teres estado sempre do meu lado. Obrigado por seres capaz de fazer de mim um homem feliz por alguns meses. Obrigado por me teres ensinado tanto. Obrigado por me teres ajudado. Obrigado por te teres cruzado no meu caminho. Mas o que estava escrito congeminava contra nós, e, num abrir e fechar de olhos, ela estava a dizer-me adeus, a ir embora, a largar tudo o que havia em mim, mesmo o amigo. Ela tinha ido. Tinha seguido a verdade, a razão, o correcto, o que tinha de ser. Eu ali fiquei, pasmo, a chorar como um homem chora, como uma criança, à espera que alguém me dissesse que tudo aquilo era mentira, que tudo era apenas um sonho mau. Mas não era. Era a pura da verdade. E eu continuei a chorar, lágrimas de sangue que o meu coração não estanca. Suspiros de amor, de uma paixão esquecida e ignorada. Ela foi. É feliz outra vez, dedica a sua vida a outro alguém, e eu morro aqui sozinho, à espera do dia em que tudo possa voltar ao que era. Espero na minha estúpida ânsia por um dia que não chegará nunca mais. Levou com ela as promessas que na Queima me entristeciam, promessas de nós dois, juntos, expostos ambos na beleza do traje académico. Promessas de poder acompanhar esta nova fase tão bela da sua vida. Partiu e foi. Fiquei e cá estou. O sorriso que era antes de agradecimento é agora de dor e tristeza, tal qual à semelhança do coração que bate desenfreadamente. Estou vivo sem vida. Sem a alegria que ela levou, que ela me tirou de forma tão brusca. Quero chorar e nem um quarto vago, nem uma cama, nem uma almofada eu tenho que possa amparar as minhas lágrimas de desgosto convulso. Triste, só e abandonado, gelado eu me sinto, sem pinga de amor, de uma branda paixão que me aqueça o sangue. Quero esquecer e passar à frente como toda a gente me diz para fazer, mas a âncora ficou bem presa ao fundo e não quer agora levantar para eu rumar da direcção da vida que espera por mim. Adeus, sê feliz à tua maneira e que o bom amor sempre nos acompanhe aos dois, eu aqui… e tu aí…

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